Separação da luz e da treva

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         Você certamente já leu o “Hino da criação”, que é o trecho inicial do Livro de Gênesis, onde está escrito:

 

“¹ No princípio, Deus criou o céu e a terra. ² A terra era sem forma e vazia, e sobre o abismo havia trevas, e o espírito de Deus pairava sobre as águas.

³ Deus disse: “Haja luz!”, e houve luz. ⁴ E Deus viu que a luz era boa. Deus separou a luz das trevas. ⁵ À luz, Deus chamou “dia”, e às trevas, chamou “noite”.

        Mas veja o que é uma pessoa com criatividade! A poetisa Celina Ferreira leu esse trecho e, com base nele, escreveu um poema. Leia o poema e veja se você gosta do modo como ela recontou essa parte do Gênesis.

 

O dia e a noite

 

Celina Ferreira

 

No meio das trevas

a mão do Senhor

ergueu-se ordenando

com grande vigor:

 

‒ “Que a luz seja feita!”

E o nada morria.

Da treva desfeita

vem, lúcido, o dia.

 

E vem precedido

de um leve palor.

Nas tintas mais belas

Tirou sua cor.

 

Das trevas do nada

Sobradas do dia

formou Deus a noite

em sombra e poesia.

FERREIRA, Celina. In OLIVEIRA, Alaíde Lisboa de. Poesia na escola: orientação didática - novo programa - coletânea completa. 2. ed. Editora Bernardo Álvares S.A. Belo Horizonte, 1967. p. 72.

 

Observe que, como se inspirou no texto bíblico, mas escreveu um poema, a poetisa utiliza linguagem simbólica. Assim, ela diz, por exemplo, que o dia vem precedido de um “leve palor” que tira sua cor das tintas mais belas. “Palor” significa “palidez”. É um modo poético de dizer que antes do dia aparece uma leve palidez, ou seja, a madrugada.

Na última estrofe, há outro exemplo de linguagem simbólica: a poetisa diz que Deus criou a noite usando sombra e poesia. Assim, ela dá a entender que a noite não é apenas treva (escuridão), mas que também tem beleza e evoca emoção nas pessoas.

Por fim, note que o poema apresenta um ritmo particular de leitura e também rimas. “Senhor” rima com “vigor”; “morria” rima com “dia”. Essas rimas associadas ao tamanho dos versos imprimem ritmo à leitura do texto, o que deixa o poema ainda mais gracioso.

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